Dr. Scott B. Halstead,
A dengue é uma doença transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Os sintomas mais comuns da doença são febre, dores de cabeça e no corpo (principalmente nas articulações). Também podem aparecer manchas vermelhas na pele e, em alguns casos, sangramentos (mais comuns na gengiva). Aqueles que apresentarem alguns desses sintomas devem procurar, imediatamente, o serviço de saúde mais próximo. O Aedes aegypti se reproduz dentro ou nas proximidades de habitações, locais de trabalho, terrenos e áreas públicas, em recipientes ou locais que possam acumular água, gerando pequenos e grandes focos (vasos de plantas, pneus velhos, cisternas, lajes, calhas, caixas d'água etc.). O mosquito mede menos de 1 centímetro, possui cor preta, além de listras brancas no corpo e nas patas. Ele costuma picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando assim o sol forte, mas, mesmo nas horas quentes, pode atacar à sombra, dentro ou fora de casa. O Aedes aegypti apresenta um comportamento estritamente urbano, sendo raro encontrar amostras de seus ovos ou larvas em reservatórios de água nas matas. Em média, cada mosquito vive em torno de 30 dias e a fêmea chega a colocar entre 150 e 200 ovos por vez. Seu raio de vôo pode chegar a 800 metros, sendo capaz de picar dezenas de pessoas em um só dia, facilitando a disseminação do vírus da dengue. Não há tratamento específico para o paciente com dengue clássica. O que o médico faz é tratar os sintomas, como as dores de cabeça e no corpo, com analgésicos e antitérmicos. É muito importante que o paciente fique em repouso e beba bastante líquido durante o tratamento: água, sucos, soro caseiro (preparado com uma colher de chá de sal e uma de sopa de açúcar dissolvida em 1 litro de água fervida ou filtrada). A doença também se apresenta sob a forma hemorrágica - mais grave - que, não sendo tratada de forma adequada pode levar, inclusive, à morte do paciente. São conhecidos quatro tipos de vírus da dengue: 1, 2, 3 e 4, sendo que, no Brasil, não há ainda a circulação do tipo 4. Uma pessoa que já teve dengue não está livre de contrair a doença novamente, ela só estará imune ao mesmo tipo de vírus. Ou seja, a pessoa fica imune ao tipo que provocou a doença anteriormente, mas ainda poderá ser infectada pelas outras três formas conhecidas do vírus da dengue. Não há perigo de transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem mesmo por meio de fontes de água ou alimento. Só o mosquito infectado transmite a doença. A dengue é um sério problema de Saúde Pública em todo o mundo, especialmente nos países tropicais como o nosso, onde as condições do meio ambiente, aliadas a características urbanas, favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti. Mais de cem países em todos os continentes, exceto a Europa, registram a presença do mosquito e casos da doença. O Aedes aegypti que hoje atinge mais de cem países apareceu, pela primeira vez, na África. De lá para cá, visitou uns tantos continentes até dominar o planeta e funcionar como uma espécie de ameaça à saúde pública mundial. Todos nós conhecemos os sintomas da dengue, suas possíveis áreas de risco, os segredos da prevenção e o papel da mobilização. Mas a verdade é que se não tomarmos os devidos cuidados, o vetor pode invadir a nossa casa: o alerta é geral. Já no século XVI, quando o mosquito aportava no continente americano, junto aos navios negreiros, em plena colonização, não se cogitava falar em dengue. O vírus, proveniente da Ásia, só chegaria muito tempo depois. Os primeiros surtos de dengue foram reportados no final do século XVIII, em Java (Sudoeste asiático), na Filadélfia (Estados Unidos) e no Cairo e Alexandria (Egito). No século seguinte, para a desgraça do Caribe e do Sul dos Estados Unidos, quatro grandes epidemias devastaram suas populações, que desconheciam os motivos da moléstia. Ainda assim, neste momento, longos eram os intervalos entre as epidemias. Isso, graças à dificuldade de introdução de novos sorotipos do vírus causador da doença, uma decorrência direta da lentidão do transporte marítimo. A lógica era a seguinte: se escasso era o trânsito do mosquito, reduzida a introdução de novos sorotipos e, com ela, a incidência de epidemias. A tensão se agravou apenas com a Segunda Guerra Mundial, quando uma pandemia de dengue clássica tomou o Sudeste asiático. Já os registros dos primeiros casos de dengue hemorrágica marcaram a década de 1950: Filipinas e Tailândia. Uma segunda expansão da dengue na Ásia começou nos anos 80, quando o Sri Lanka, a Índia e as Ilhas Maldivas tiveram suas primeiras epidemias de dengue hemorrágica. Desde então, epidemias de dengue causadas pelos quatro sorotipos também se intensificaram na África. Em 1953, o vírus do tipo 2 foi isolado pela primeira vez na América, na Ilha de Trinidad. Mas foi apenas após a década de 60 que a dengue se intensificou no continente. A primeira epidemia confirmada em laboratório foi associada ao sorotipo 3, isolado no Caribe e na Venezuela em 1963 e 1964. O sorotipo 1 apareceu pela primeira vez em 1977, na Jamaica, com provável origem africana. A partir de então, países da América do Sul, como Brasil, Bolívia, Paraguai, Equador e Peru, que estavam livres da dengue, foram acometidos por epidemias causadas por esse sorotipo. Já o sorotipo 2, vindo do Sudeste asiático, foi o responsável pelo primeiro surto de febre hemorrágica ocorrida fora da Ásia, ocorrido em 1981, em Cuba. O segundo surto dessa manifestação da dengue aconteceu na Venezuela, em 1989. Também no ano de 1981, houve a introdução do tipo 4 no continente, importado possivelmente das ilhas do Pacífico, causando diversas epidemias. O sorotipo 3, que não era encontrado desde 1978, voltou a ser detectado em 1994, na Nicarágua e no Panamá. Em 1995, a dengue já era a mais importante doença viral transmitida por mosquito no mundo. Hoje, transcorrida mais de uma década, a condição não é diferente: a dengue é um dos principais problemas da saúde pública mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente, em todos os continentes. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em conseqüência da doença. O trabalho tem sido contínuo. O GT pauta sua proposta em um Plano Estadual de Prevenção e Controle da Dengue, que tem como objetivo geral evitar epidemias e óbitos no estado. O plano, criado em 2007, vem sendo atualizado anualmente pelo grupo e possui quatro eixos principais de ações: assistência, vigilância epidemiológica/laboratorial, vigilância ambiental/controle de vetores e gestão integrada, educação em saúde e mobilização social. Em cada um dos eixos são propostas ações que vão sofrendo alterações conforme detectada necessidade de redirecionamento pelo grupo. O grupo se reúne quinzenalmente, mas a periodicidade dos encontros muda conforme a necessidade. Entre as ações que foram mantidas e que continuam em andamento, vale destacar as capacitações de coordenadores municipais do programa da dengue para o Levantamento Rápido do Índice de Infestação de Aedes aegypti (LIRAa), a inserção de bombeiros de forma complementar às visitas domiciliares em municípios do estado, ações de educação em saúde e mobilização social. Também é importante lembrar a sala de situação, reativada na primeira semana de novembro e o Comitê Consultivo de Dengue, formado por especialistas de todo o país.
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