O surto de dengue deste ano no Rio de Janeiro e em outros estados está chamando mais a atenção da população do que no episódio de 2002. Pesquisa feita pela CNT Sensus em abril mostra que quando questionados, 75% dos consultados afirmam que estão acompanhando o assunto. Em fevereiro de 2002, 60,7% dos acompanhavam o problema. Em fevereiro deste ano, a parcela informada a respeito do surto somava 55,1% dos entrevistados brasileiros.
Ao serem confrontados com uma lista de possíveis responsáveis pela epidemia, 42,2% dos entrevistados afirmaram que o problema se deve à falta de atuação de todos nós, devido à falta de colaboração na preservação das cidades. Outros 32% apontam os moradores das regiões afetadas, que não cuidam da prevenção.
Prefeituras aparecem na terceira posição na lista da culpados, com 7,5% das respostas e o Ministério da Saúde vem em seguida, com 7,4%. Dentre os entrevistados, 4,2% apontam para a falta de atuação dos governos estaduais e apenas 2,8% acreditam que não existem culpados, pois trata-se de um fato natural.
Ainda assim, 53,1% dos entrevistados avaliam que vivem em uma cidade limpa e bem cuidada. Outros 43,3% consideram a cidade em que vivem é suja e mal cuidada. Para 67,6% dos brasileiros, a razão da sujeira está na falta de educação do povo, 20% apontam para a falta de ações do governo e 9,1% lembram da falta de lixeiras nas ruas.
Dos 2 mil entrevistados pela CNT/Sensus na semana passada, 64% dizem que não jogam lixo na rua, 29% admitem que fazem isso de vez em quando e 6,3% assumem que jogam lixo na rua com alguma freqüência.
No levantamento deste mês, a pesquisa incluiu também perguntas sobre a morte da menina Isabella Nardoni. O tema é acompanhado por 86,2% dos entrevistados e 12% disseram ter ouvido falar no caso. Uma fatia de 71,8% acredita que o assunto vem sendo tratado pela mídia adequadamente, com competência. Outros 24,3% dos pesquisados acham que, ao contrário, a mídia estaria tratando com incompetência e de forma inadequada o crime.
Dengue afeta toda a América Latina, alerta médico
Segundo Eric Martinez Torres, do Instituto de Medicina Pedro Kouri, de Havana, o combate à dengue não é uma tarefa fácil. Ele defendeu uma "atitude de enfrentamento", que inclui educar a população, principalmente as crianças nas escolas. O médico está no Rio de Janeiro, participando de um simpósio sobre a doença, promovido pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio.
A dengue é uma doença que afeta praticamente todos países da América Latina, com exceção do Uruguai e Chile continental (excluindo a Ilha de Páscoa). A informação é do médico cubano Eric Martinez Torres, do Instituto de Medicina Pedro Kouri, de Havana, considerado um dos maiores especialistas do mundo em dengue. Ele participou de um simpósio sobre a doença, promovido pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio.
Segundo Martinez Torres, Cuba foi o primeiro país das Américas a registrar uma epidemia de dengue, ocorrida há 27 anos. A doença, segundo ele, está contida e não ocorre mais de forma endêmica no país. "Nós tivemos casos de dengue dos tipos 1 e 2, mas não de forma endêmica", relatou.
Para o médico, o combate à dengue "não é uma tarefa fácil". Ele disse ainda que não é possível erradicar totalmente a doença em países onde o vírus foi introduzido, mas defendeu uma "atitude de enfrentamento", que inclui educar a população, principalmente as crianças nas escolas, além de melhorar o abastecimento de água e saneamento básico.
O médico ressaltou que o período mais perigoso da doença é quando a febre baixa. Em crianças, isso acontece entre o terceiro e o quinto dia da doença, e em adultos, entre o terceiro e o sexto dia. Segundo ele, nessa hora é que se deve procurar o médico.
"Primeiro, o doente passa pela fase febril, que dura de dois a três dias. Depois entra na fase crítica, que vai de 24 horas a 48 horas após a febre baixar. A fase da convalescença, que vem depois da fase crítica é quando há o risco de uma recaída. Não sendo tratado adequadamente, paciente pode morrer num período de dez a 24 horas.
Nesta fase o risco de vida é muito maior", destacou o especialista.
O médico cubano deve ficar no Rio por mais três dias. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, ele irá visitar hospitais da rede municipal e conversar com chefes do setor de pediatria das unidades médicas.
MP da Bahia quer acesso a imóveis fechados para conter dengue
O Ministério Público da Bahia encaminhou ontem uma representação aos promotores de Justiça do Estado recomendando o requerimento de um alvará que autorize, para o combate ao mosquito transmissor da dengue, o acesso dos agentes de saúde a imóveis abandonados ou fechados, bem como àqueles em que haja proibição da entrada dos funcionários pelos moradores.
Para o procurador-geral de Justiça da Bahia, Lidivaldo Britto, o crescimento de casos de dengue no Estado justifica a medida. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, até a semana passada foram notificados 18.471 casos. Em todo o ano passado, foram 14.174 notificações.
São Paulo - Em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, foram registrados este ano 574 casos da doença, segundo o secretário municipal da Saúde, Oswaldo Cruz Franco. Houve 65 novos casos detectados nos últimos exames laboratoriais. Franco informou ainda que foi descartada a possibilidade de a morte da dona de casa Maria Aparecida Arcanjo dos Santos, no último dia 2, ter sido causada por dengue hemorrágica.
Na região, no entanto, outras duas mortes suspeitas ainda são investigadas. Em Araraquara, cidade paulista com a maior incidência de dengue neste ano e que vive uma epidemia, o número de casos permanece em 776.
Capacitação - O Consultor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em Dengue, o médico cubano Eric Martínez Torres, defendeu ontem, no Rio, a capacitação de profissionais como forma de evitar a alta letalidade da doença.
Torres lembrou o exemplo de El Salvador, que enfrentou grave epidemia em 2000, com 20 mil casos, 411 de dengue hemorrágica e 32 mortes de crianças. Desde os anos 80, o país convive com os sorotipos 1, 2, 3 e 4, mas em 2000 houve a reintrodução do tipo 2, de origem asiática, que é mais agressivo "A partir dessa epidemia houve reorganização do sistema de saúde e desde então não houve mortes de crianças", disse.
No Estado do Rio, 95 pessoas morreram este ano, 58 delas na capital. Para o especialista, equipes bem treinadas são capazes de identificar e reagir ao choque (a queda brusca de pressão responsável pela maioria das mortes).
Torres está no Brasil a convite da prefeitura do Rio e evitou críticas ao sistema de saúde brasileiro. Nesta segunda Torres participou de simpósio para profissionais de saúde do município. Amanhã, o especialista visitará o Hospital Jesus, referência em tratamento infantil.
Texto: Fonte: Valor Online / Postado em 29/04/2008 ás 11:46 |
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